segunda-feira, 7 de junho de 2010

Rali de Portugal III - O sonho




Chegando ao ano de 1989 tivemos o previlégio de participar no Rali de Portugal. Não estava a contar participar e muito menos na cadeira do lado direito, mas o João Paulo Almeida andava a planear a realização de um dos seus sonhos, que era participar no “Vinho do Porto”, e já perto da data ficou sem o navegador previsto e resolveu vir-me perguntar se eu podia ir com ele. É claro que lhe respondi logo que sim pois nessa data estava disponível, mas só umas horas depois é que comecei bem a pensar onde me tinha metido. E nessa altura ainda não tinha ideia do que estava para vir, pois posso ir já adiantando que se estava tudo montado para que se conseguisse fazer uma primeira etapa, pois o objectivo era só mesmo na 1ªetapa, com as condições mínimas para um bom resultado, no dia saiu tudo ao contrário do previsto.
O carro era um GT turbo com uma boa preparação de grupo N, alugado a um conceituado preparador desses carros. Tudo estava a correr bem até às verificações, realizadas no Autódromo do Estoril na manhã do dia onde se iria realizar a primeira especial do rali, numa pista mista feita no autódromo em que tanto se andava no asfalto da pista como pelos acessos de terra à mesma. Terminadas as verificações trata de por o carrinho no parque fechado e ir a Alcabideche almoçar. Primeira surpresa, ao regressar-mos à carrinha onde tínhamos ido, esta tinha sido assaltada e tinham-nos levado todos os bens pessoais. Estávamos a cerca de uma hora do inicio do rali e apenas tínhamos os capacetes porque tinham ficado dentro do carro de prova. Lá se arranjaram uns fatos emprestados por alguém que já tinha feito a especial ou ainda ia fazer e vamos lá à vista que as notas de andamento também tinham ido. Para mim primeira vez dentro de um carro daqueles, arrancamos da via das boxes e ainda estava eu a digerir o arranque do carro e a pensar no que iria ser o dia seguinte e já ia um fardo de palha aos saltos à frente do carro. Resolvi então passar o resto da especial a dizer adeus aos fotógrafos para não me dar logo ali um fanico.
Após a especial lá conseguimos arranjar uns fatos emprestados para usar-mos no dia seguinte, fomos dar uma limpeza aos rascunhos das notas que tinham sido promovidos a oficiais, ainda arranjamos umas peúgas e afins limpos para o dia seguinte e toca lá dormir que amanhã é novo dia e este vai correr bem.

Pelas previsões íamos ter uma manhã húmida e nevoeiros até a zona de Figueiró / Campelo e depois seco e limpo até ao anoitecer, por isso toca de ir de pneus mistos e pressão normal no turbo para depois das primeiras especiais se passar a slicks e mais pressão no turbo. Isto era a previsão porque na prática tivemos tudo sequinho e limpo até perto da Lousã e aí quando nos montaram uns slicks com rasgos à frente e lisos atrás começou a chover que até nas ligações não podíamos passar dos 80 pois a traseira entrava em aquaplaning e como nunca mais encontrámos a carrinha onde estavam os mistos está de ir assim até ao fim da etapa, apanhando sustos atrás de sustos, subindo uma barreira no Caramulo, assustando um Belga na Muna que até teve medo de nos passar com o carro a varrer a estrada toda e a Freita com um nevoeiro de cortar à faca na zona de terra do planalto, mas que graças a uma dica dada pelo Luís Lisboa as notas saíram todas a horas mesmo com tanto nevoeiro.
Finalmente chegados à Póvoa tentamos saber do resto do pessoal, mas nada nem do carro de assistência nem do carro do José Garcia/Amilcar Roldão com que partilhávamos a carrinha de assistência. Só de madrugada é que chegou o carro de assistência e eles também não sabiam nada do outro carro, apenas que tinha desistido no troço da Lousã, ninguém se tinha aleijado mas não sabiam deles. Como na altura os telemóveis eram praticamente ficção e como não queríamos ligar para casa do Zé para não alarmar os Pais toca de ir para a Lousã. Ao chegarmos lá conseguimos descobrir o carro que estava com uma roda deitada abaixo guardado nos Bombeiros de Arganil, e o piloto devia estar a chegar pois tinha ido a casa buscar o atrelado, disseram-nos. Então o que se tinha passado, eles bateram, os Bombeiros recolheram-lhes o carro e como não aparecia ninguém eles com os seus fatos de competição meteram o capacete debaixo do braço e apanharam a camioneta para Coimbra de onde apanharam o Expresso para Leiria. Na altura era assim que a malta se desenrascava.
E foi assim, o que era para ser a realização de um grande sonho para o João Paulo acabou por ser quase um pesadelo. Pode ser que agora com esta moda dos Revival ainda tenhamos que reeditar a dupla para nos vingarmos deste dia.

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